Os veículos ditos “econômicos” chegam a beber mais do que carrões com motor mais potente. A explicação pode estar em uma peça fundamental do carro: o motorista. Segundo César Urnhani, piloto de desenvolvimento da Pirelli e campeão das Mil Milhas, a forma de conduzir o automóvel influência, e muito, no gasto de combustível. “Nós queimamos bilhões de reais por não saber dirigir. Conduzindo o veículo de forma adequada o motorista chega a uma redução de, no mínimo, 20%. O que ao final do ano pode representar o valor do IPVA do veículo.”
Para provar que dirigir de maneira eficiente não significa perda de tempo e ainda traz mais segurança e economia, o piloto realizou um teste por 25 km, em uma primeira viagem dirigindo de forma normal e na segunda, de forma eficiente. Com um Ford Fiesta 1.6, durante o percurso que incluía subidas, descidas, lombadas, trânsito moderado e rotatórias, foram feitas 85 trocas de marchas no modo normal contra 46 no modo eficiente. As frenagens somaram 36 ante 21 e o consumo médio foi de 8,149 km/l contra 13,567 km/l, o que representa o gasto de R$ 7,60 e R$ 4,57, respectivamente. Mas e o tempo? Ambos levaram 23 minutos para concluir o trajeto. “Não é só combustível que é economizado. Discos de freio, pneus, câmbio e embreagem também são poupados, mesmo sem a possibilidade de contabilizar o desgaste desses componentes.”
Por quê meu carro 1.0 bebe tanto?
Carro econômico e potente não combinam. “Desempenho e performance é algo que o 1.0 está longe de oferecer”, diz Urnhani. “Carros 1.0 não foram feito para acelerar. Se o consumidor quer um carro potente tem de estar ciente que vai precisar queimar mais combustível. Se quer economizar, vai precisar abrir mão do bom desempenho.” Principalmente em veículos de motorização menor, evite pressionar todo o acelerador. Se quiser ganhar velocidade, opte pela redução de marcha. “Fique de olho no conta-giros, o ideal é andar entre 1.500 rpm, no mínimo, e 2.800 rpm, no máximo.” Procure acelerar gradualmente e ganhe velocidade aos poucos.
Para que pressa?
Ande em velocidade compatível com o trânsito da cidade. Além do congestionamento carregado, nas principais vias de São Paulo há limite de velocidade, geralmente entre 70 km/h e 90 km/h. “O motorista tem o hábito de andar rápido em pistas com radares e ao avistar o equipamento freia bem em cima. Mesmo que escape da multa, ele perdeu dinheiro com o gasto excessivo do freio, de combustível e dos pneus.” O ideal é acompanhar o ritmo do trânsito. Não adianta tentar andar a 50 Km/h se a média da via é inferior a essa marca. Isso só traz mais gastos e praticamente nenhum ganho em menos tempo.
Gasto menos combustível andando na “bangela”?
Rodar em ponto-morto não traz economia de combustível, nem em descidas. “Pelo contrário, descer engrenado não exige esforço do motor, mas se o motorista desengrena o carro, o motor precisa rodar e para isso vai precisa de combustível.” Propulsores modernos, equipados com injeção eletrônica, tem um mecanismo que corta o envio de combustível para os bicos injetores quando não há aceleração. Nesta condição, o motor continua funcionando pela inércia do movimento, mas o consumo é zero. Na banguela, os bicos enviam combustível para o motor para manter o ponto-morto.
Para comprovar na prática, use o computador de bordo, se seu carro tiver o equipamento. “Enquanto você estiver descendo engatado, verá no visor o consumo zero, geralmente indicado por 999 km/l ou traços.” Na hora de subir, pegue embalo antes do aclive ou no início da subida para não precisar “afundar” o pé no acelerador ou trocar de marcha no meio da ladeira.
Quando a via estiver livre, procure andar na maior marcha pelo maior tempo possível. “O esforço do carro é menor e o consumo também.” Não é necessário também passar por todas as marchas. “Pule da terceira para a quinta direto se estiver em boa velocidade, por exemplo.”
Por que a fila em que estou nunca anda?
O condutor que dirige colado no carro da frente não consegue ter uma visão do trânsito. “O motorista, ao invés de ganhar vai perder tempo parado, gastar muito combustível e perder a paciência.” No trânsito carregado mantenha sempre uma boa distância do carro à frente. “Ao andar, engate a primeira e pise o mínimo possível no acelerador, aproveitando ao máximo o torque do carro. Deixe o carro rodar em 1.500 rpm e quando chegar ao limite mude para a segunda marcha e mantenha a baixa velocidade. É a única forma de corrigir o gasto que o congestionamento provoca.” Para saber qual é a distância mínima que você deve manter do outro veículo, basta ficar atento aos pneus traseiros do carro à sua frente. Se não for possível enxergá-los, você está perto demais.
O semáforo está fechado. Correr por quê?
Ao ver o semáforo fechar o motorista geralmente coloca o carro na “bangela” ou mantém a velocidade e é obrigado a frear. “Quando ele precisar sair, vai ter que engatar a primeira, a segunda e daí por diante. Se, ao avistar o sinal vermelho, ele permanecesse engatado, mas em uma velocidade menor, teria a chance de o semáforo abrir e poder seguir, sem frear e sem precisar usar a primeira marcha.”
Você e seu carro seguro
Mudanças no modo de condução refletem também em uma direção menos estressante e agressiva. “O motorista escolhe o grau de risco que quer correr. Quem insiste em dizer que dirige de forma imprudente e nunca bateu, não pode esquecer que uma hora ou outra pode acontecer e, além do perigo, está queimando dinheiro”, afirma Urnhani.